O Pastor Alemão é uma única raça, controlada por um único organismo de registro, regida por um padrão zootécnico morfológico-comportamental mundialmente único, emanado pela Verein für Deutsche Schäferhunde – SV (Clube para Cães Pastores Alemães, Alemanha). Dentro desta raça, com o passar dos anos, em decorrência de ênfases diferentes nos processos seletivos, surgiram duas linhagens básicas: a de genética específica para trabalho em polícias, atividades militares, de utilidade e esportes correlatos, que é linha contínua aos Pastores Alemães mais primitivos e, a dos cães voltados para as exposições de beleza, que se tornou cada vez mais presente principalmente após a 2ª Guerra Mundial.
Na linhagem de trabalho o único critério de escolha de reprodutores é o desempenho em trabalho, que é consequência natural e obrigatória de sua saúde física e mental, inteligência, disposição para trabalhar e servir, subordinação, dureza, coragem, agressividade e equilíbrio. Só se consegue avaliar toda a magnitude desse desempenho comportamental e físico quando um cão é treinado e submetido a trabalho por muitos anos. Não há como se testar a aptidão para o trabalho de uma população sem que se coloque diretamente cada indivíduo a prova, em treinamento e, nas provas de trabalho, geração após geração.
São cães robustos, rústicos, atléticos, de temperamento equilibrado e confiável. Suas aptidões vão desde atividades policiais de alta performance, esportes policiais e militares, proteção pessoal, guarda, ou mesmo para quem quer apenas ter um companheiro para passeios, corridas, para trotar de bicicleta, nadar, escalar montanhas etc. O atualmente denominado “Pastor Alemão de Trabalho” não é nada novo, trata-se apenas do Pastor Alemão primitivo, original, o "Rin-Tin-Tin", que aos poucos foi meio esquecido e ofuscado pela maior projeção mundial dos cães de exposição.
Por incrível que pareça, apesar de serem muito mais firmes e confiáveis na agressão quando necessário, os cães de trabalho são muito equilibrados e dóceis no convívio diário e com crianças. Como os critérios para a escolha dos cães que serão utilizados na reprodução não são estéticos, trata-se de uma linhagem muito heterogênea nesse quesito, ou seja, apresenta cães de uma variedade grande de colorações e tipos físicos, mas, sempre atléticos e com temperamento equilibrado e eficiente para o que se propõem. Por isso também se faz importante salientar de apesar de muitos assim acreditarem, não é a cor cinza o referencial da aptidão, e sim a qualidade individual dos cães, baseada no seu desempenho nas provas de trabalho, independentemente da cor; existem bons cães em todas as cores.
Do que se trata?
O Internationale Gebrauchshunde Prüfungsordnung - IGP (Regulamento Internacional de Provas para Cães de Trabalho), até 2018 denominado com a sigla IPO (International Prüfung Ordnung), é o regulamento de Provas de Trabalho da FCI (Federação Cinológica Internacional), que substituiu em 2012 a sigla SchH (Schutzhund). Ele nasce uma de origem prova alemã concebida no início do século 20 pelo Capitão Max vom Stephanitz, que a estabeleceu como prova de seleção de cães e suas aptidões para o trabalho para a raça Pastor Alemão. Devido ao seu sucesso, foi sendo gradativamente adotada para diversas outras raças como meio de seleção.
Nas 3 seções do IGP testa-se a fundo a capacidade que cada cão tem para trabalhar nas atividades de rastreio, obediência e subordinação e, defesa e proteção. Atributos como estrutura física, saúde articular, treinabilidade, instintos, resiliência, disponibilidade para o trabalho, cooperação, capacidade olfativa, equilíbrio emocional, firmeza de nervos e muitos outros, são medidos numa prova complexa, que tem exercido um papel indispensável em mais de um século de seleção genética de cães de trabalho policial e militar e, no desenvolvimento de técnicas de treinamento.
Trata-se de um triatlo para cães de trabalho, com origem em atividades policiais e militares, composto de 3 seções distintas e necessárias a sua conclusão e aprovação: Seção “A” (Faro), Seção “B” (Obediência) e Seção “C” (Proteção). É o mais importante esporte canino existente, praticado praticamente em todos os países do mundo onde existem cães de atividade policial ou militar.
No IGP não basta que o cão execute exercícios, deve realiza-los com motivação, alegria, precisão e velocidade. Não basta que o cão defenda o seu condutor, deve protegê-lo trabalhando como um time com ele, obedecendo em situações de alta estimulação e, suportando pressões físicas e psicológicas demonstrando autoconfiança, poder e dominância.
Podem participar do IGP quaisquer raças, sendo uma modalidade especialmente frequentada pelas raças Pastor Alemão, pelos Pastores Belgas, Rottweilers, Dobermans, Boxers, Pastores Holandêses, Airedale Terriers, Schnauzer Gigantes, Bouvier des Flandres, Hovawart e mesmo Border Collies. Essas raças utilizam o IGP como ponto de corte seletivo para a reprodução de seu plantel na Alemanha, o que torna esta prova a responsável pela manutenção das capacidades de trabalho dessas raças através das gerações.
As provas são divididas em níveis de dificuldade, que vão do mais básico - IGP1 - ao mais difícil - IGP3 - que é a categoria de competições internacionais. Independente dos graus de dificuldades (IPO 1, 2 ou 3), todas elas são compostas de 3 seções: A – Faro, B – Obediência e C – Proteção, e, por isso, são conhecidas como o Triatlo canino de cães de trabalho.
Os cães devem reconhecer e seguir disciplinadamente uma trilha marcada por uma pessoa em um determinado terreno, na qual é perdida alguns objetos, que devem ser localizados e corretamente indicados pelo cão. O tamanho da pista, o tempo de espera para a entrada do cão para o início do rastreio e o número de objetos é dependente da categoria.
Os cães devem executar vários exercícios de subordinação e utilitários, de maneira rápida, alegre, motivada, precisa e concentrada, sem demonstrar timidez ou indícios de treinamento sob pressão. A pressão ou forçamento durante o treinamento é algo altamente indesejável. Nas provas pode se perceber claramente aqueles cães que trabalham motivados e, os que trabalham sob pressão, que não tem boa avaliação nos certames.
Os cães devem executar diversos exercícios de proteção ao condutor, desde a busca e localização em esconderijos distribuídos em um campo, sem agressão gratuita, até situações de imobilização do figurante (pessoa que porta os equipamentos de proteção), onde serão avaliados a energia e o completo controle do cão.
Além desse triatlo, para aqueles que querem se especializar ainda mais, existem difíceis provas constituídas somente da seção de faro, denominadas FH (em português CF – Cão de Faro), que também tem os níveis 1 e 2, e que tem como pré-requisito anterior obrigatório as provas de IPO antes mencionadas.
Como os chamados “Cães de Trabalho” não são selecionados por um critério ou padrão estético-morfológico, apresentam-se nas mais variadas cores e tipos. Seu critério de seleção é unicamente o desempenho no triatlo canino: IGP, onde são enaltecidas suas capacidades físicas, de temperamento e, de saúde articular, como verdadeiros atletas!